Ela surgiu, em fins de 2020, nas pegadas da trilha literária deixada por muitas mulheres, ao largo da Serra da Mantiqueira, da Bacia do Rio Grande e ao longo dos últimos três séculos. Mulheres que vão, desde a mulher representada enquanto personagem nos textos literários, passando pelo resgate de nomes e obras perdidas no tempo e assim revisando o cânone literário até a reflexão sobre a condição da mulher/escritora contemporânea, como sujeito da própria história.
A AFESMIL, que teve sua sessão inaugural a 24 de maio de 2021, não foi fruto do acaso, mas fruto de uma gestação secular. Outras gerações ensaiaram a sua existência, a começar pelas sul-mineiras inconformadas com a exclusão de Júlia Lopes de Almeida, nos quadros da fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1897. E isto quando, há mais de duas décadas e meia, as sul-mineiras já liam e escreviam aqui, em terras sul-mineiras, não apenas sobre temas femininos, mas feministas. Lembrando que a publicação brasileira, considerada como o 1º jornal feminista, denominado “O Sexo Feminino”, era dirigido por Francisca Senhorinha da Mota Diniz e editado, em 1873, na Campanha, a cidade-mãe do Sul de Minas. Prosseguindo, outras iniciativas ocorreram no fim dos anos 1930, com as discussões sobre a nossa identidade e o nosso patrimônio histórico e artístico nacionais, no governo Vargas. Retomadas, nos anos 1960, com a incipiente presença, em meio universitário e em suplementos literários, da literatura feminina e levada adiante com a elaboração de dicionários, nos anos 1990, sobre as escritoras brasileiras. Todas estas tentativas de criação de uma academia literária regional feminina não lograram êxito, mas se configuraram, ao longo do tempo e ao largo do espaço, como as colunas da casa, que hoje abriga a AFESMIL, a Casa Bárbara Heliodora.
Junto com Bárbara, está o conjunto das nossas patronas, -escritoras e poetas- que desenharam o MAPA e marcaram o CALENDÁRIO do SUL DE MINAS CULTURAL E LITERÁRIO.
No MAPA da AFESMIL, cuja sede é Poços de Caldas, está o Sul de Minas com suas franjas, que se espraiam pela Serra da Mantiqueira mineira, paulista e fluminense e pela Bacia do Rio Grande mineira e paulista. Está o conjunto das mais de 2 centenas de localidades (cidades e distritos), que têm origem no Arraial de São Cypriano, e hoje correspondem ao território sul-mineiro, com destaque para algumas delas. Encontramos, neste mapa, a nossa grande referência histórica, a nossa São João del-Rei, a cabeça da antiga Comarca do Rio das Mortes; as também setecentistas: Vila Rica, hoje Ouro Preto, e Diamantina. As referências se estendem para as nossas três equidistantes capitais: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Nas vizinhanças das Serras estão Barbacena e Piedade do Rio Grande, em Minas; São João da Barra no Rio e São João da Boa Vista em São Paulo. Também em São Paulo: os Vales do Paraíba e da Ribeira. No desaguar da Bacia do Rio Grande e do Lago de Furnas estão: Sacramento, Conquista e Formiga. Além, é claro, das localidades de referência, entranhadas no coração do Sul de Minas, e também destacadas como berço de muitas patronas, porque aí nasceram ou escolheram a região para residir e produzir seus trabalhos literários. Como são os casos de Poços de Caldas, Campo Belo, Lambari, Pouso Alegre, Varginha, Lavras, Itajubá, Ouro Fino, Muzambinho, Monte Santo de Minas, Guaxupé, Paraguaçu, Boa Esperança, São Gonçalo do Sapucaí, Campanha. E como não poderia faltar, a irmã potiguar: Nísia Floresta.