
CARTONERAS GRANTYKERA E A AFESMIL
As CARTONERAS GRANTYKERA, assim conhecidas hoje -a partir de 2020-surgiram de uma iniciativa, em 2000, na denominada “Primavera Poética Sul-Mineira”, um programa secular de incentivo à leitura literária, que ocorre no Sul de Minas, no âmbito da Serra da Mantiqueira e da Bacia do Rio Grande, nesta estação do ano. Proposta que, nas últimas duas décadas, vem contando com a participação da AMARTE-Sul (Associação Mineira de Arte-Educadores / Núcleo Sul de Minas). Nesta edição do ano de 2000, o LIVRO foi trabalhado em variados suportes e com diversas técnicas. A Ação foi denominada “LIVRO DE FORMA CONCRETA”, uma proposta de trabalho com LIVROS CONCRETOS e POESIAS CONCRETAS.
Para o CONCEITO de LIVRO, tomaram como base para discussão e questionamentos, o verbete -Livro- do “Glossário Livro Leitura, Escrita, Literatura e Biblioteca”, organizado pelo coletivo Polígono Sul-Mineiro do Livro, em 2000:
A palavra livro tem origem no latim liber, um termo relacionado com a cortiça da árvore. Um livro é considerado um conjunto de folhas de papel ou de qualquer outro material semelhante, que após encadernação, tem a configuração de um volume. Conforme a UNESCO, um livro deve conter ao menos 50 folhas. Do contrário, é classificado como um folheto. Convém destacar que contemporaneamente, encontramos os livros digitais (os e-books possuem arquivos para serem lidos num computador, ou qualquer dispositivo eletrônico específico, em substituição às folhas,) e os livros áudio (trazem o registro de alguém realizando a leitura, de forma que o livro seja ouvido e assim se torne acessível para mais pessoas, inclusive, as que apresentam deficiências visuais)[1].
Para o CONCEITO de POESIA CONCRETA se apoiaram neste mesmo glossário citado acima:
Poesia concreta é uma manifestação vanguardista, com forte acento experimental, notadamente visual-com a conjugação da palavra, enquanto letra/som/imagem. Procura estruturar o texto poético conforme o espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não. Propõe o encerramento do ciclo histórico do verso como unidade rítmico-formal e a valorização da palavra por si só, com toda sua potencialidade.[2]
Nesta oportunidade, o papelão foi contemplado, como suporte, ao lado de cascas e folhas de árvores-uma referência à etimologia da palavra livro-, além de argila, pedra, madeira, metal e têxteis. No caso do papelão, as técnicas utilizadas foram: desenho, pintura, gravura, monotipia, estêncil, caligrafia e tipografia. Com encadernações de dobra e costuradas. Esta AÇÃO se tornou um PROJETO que encampou outros materiais e técnicas inclusive resíduos sólidos, o que conferiu grande destaque para o papelão.
A partir de 2003, as OFICINAS com o PAPELÃO, ganharam destaque e se tornaram um projeto independente: “DO PAPELÃO NO LIXÃO AO LIVRO NA MÃO”. O projeto passou a contar com mesas-redondas abordando a Economia Solidária e a participação cada vez maior de mulheres catadoras de papelão, que por sua vez, se interessaram em retomar os estudos e, com isso, pedagogas e professoras da EJA-Educação de Jovens e Adultos também ingressaram no projeto, que a partir de então, não apresentava mais data de início e término, passou a se configurar como um PROGRAMA.
Nos anos seguintes, as sul-mineiras, até mesmo, pelas conexões -hidrográficas, orográficas, culturais- que a região Sul de Minas apresenta com a Bacia do Prata e a Cordilheira dos Andes, tomaram conhecimento e passaram a acompanhar diversos projetos artísticos e editoriais de cartoneras latino-americanas. E, em razão, da identificação entre os fazeres literários, artísticos, culturais, comunitários e os arranjos coletivos. Passaram a incorporar mais práticas aos seus repertórios, alterando inclusive o seu nome de PAPELEIRAS para CARTONERAS.
Em 2006, numa parceria entre diversas CARTONERAS, cada qual com seu nome próprio (curiosamente nomes de flores: Amarílis, Angélica, Camélia, Capitu, Dália, Flora, Gardênia, Hortênsia, Iolanda, Lílian, Magnólia, Maia, Margarida, Melissa, Petúnia, Rosa, Susana, Violeta, Virgínia, Yasmin) e o coletivo POLÍGONO SUL-MNERO DO LVRO, muito além das releituras de narrativas orais, de obras em domínio público, que até então, eram desenvolvidas, passaram a publicar autores sul-mineiros. A pequena e incipiente produção editorial criada e reunida por elas começou a circular e ser comercializada nas FLs (Feiras, Festas, Festivais e Fóruns) Literários da região sul-mineira, o que levou à formação de uma pequena rede, na qual elas passaram a atuar de forma interativa, e sendo denominadas de Cartoneras da Serra da Mantiqueira e da Bacia do Rio Grande.
Na sequência, passaram a promover oficinas regulares de produção editorial cartonera (artes visuais, artes gráficas, encadernação) e de criação literária para catadoras de papelão e estudantes de EJA de toda a região sul-mineira. E, agora mais recentemente, no fim do ano de 2019 e início do ano de 2020, com os preparativos para a candidatura da cidade de Poços de Caldas na UNESCO-RCCU-LTERATURA (Rede de Cidades Criativas da Unesco/Sub-rede no campo da Literatura), foram convidadas a implantar um “núcleo” nesta cidade e promover a regionalização (o intercâmbio entre catadores de papelão e interessados na arte cartonera das várias localidades -cidades e distritos- sul-mineiros) e também uma possível institucionalização (de coletivo para cooperativa) do até então Movimento das Cartoneras da Serra da Mantiqueira e da Bacia do Rio Grande, no Sul do estado de Minas Gerais, no Brasil, como CARTONERAS GRANTYKERA.